sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

OMOLU/OBALUAIÊ (Omolu/Obalúayé):

Orixá da varíola e das doenças epidêmicas. Omolu está ligado ao interior da Terra (ninù ilé) e isso denota uma intima relação com o fogo, já que esse elemento, como comprovam os vulcões, domina as camadas mais profundas do planeta.
Toda  reflexão em torno de Omolu ocorreu colocando-o como um orixá ligado à terra, o que é correto, mas não deixa de ser um erro desconsiderar sua relação com o fogo do interior da Terra.
O que pode ser mais devastador que o fogo? Só as epidemias, as febres, as convulsões lançadas por Omolu!
Omolu é o fogo que varre, que arrasa para a morte (como as lavas de um vulcão). Uma cantiga de Jagun (uma qualidade guerreira de Obaluaiê, comprova o que foi dito:

Ele é o senhor que pode afligir o mundo com pestes e doenças.
Pode afligir a Terra e devastar como fogo.
Pode afligir o despertar e o adormecer.
Ele é Ajagunán

Orixá cercado de mistérios, Omolu é um deus de origem incerta, pois em muitas regiões da África eram cultuados deuses com características e domínios muitos próximos aos seus.
Omolu nasceu com o corpo coberto de chagas e foi abandonado por sua mãe Nanã Buruku, na beira da praia. Nesse contratempo, um caranguejo provocou graves ferimentos em sua pele. Iemanjá encontrou aquela criança e a criou como todo amor e carinho; com folhas de bananeira curou suas feridas e pústulas e a transformou em um grande guerreiro e hábil caçador, que se cobria com palha-da-costa (ikó) não porque escondia as marcas de sua doença, como muitos pensam, mas porque se tornou um ser de brilho tão intenso quanto o próprio sol. Por essa passagem, o caranguejo e a banana-prata tornaram-se os maiores ewò de Obaluaiê.
O capuz de palha-da-costa – azê (azé) cobre o rosto de Obaluaiê para que os humanos não o olhem de frente (já que olhar diretamente para o sol prejudica a visão).
Existe um oriqui que mostra a riqueza de Omolu e ratifica sua relação com a morte e sua indentidade com o sol.

Meu pai, filho de Savé Opara.
Meu pai que dança sobre o dinheiro.
Ele dorme sobre o dinheiro e mede suas pérolas em cântaros.
Caçador negro que cobre o corpo com palha-da-costa,
Não encontrei outros orixás que façam, como ele,
Uma roupa de pele adornada com pequenas cabaças.
Não queremos falar (mal) de alguém que mata e come gente.
Veremos voltar, na estrada do campo, o cadáver inchado
Daqueles que isultam Omolu.
Ninguém deve sair sozinho ao meio-dia.

Aspectos Gerais
SAUDAÇÃO: Atotoó!
DIA:Segunda-feira
DATA:13 ou 16 de agosto
METAL: Chumbo
CORES: Preto, branco e vermelho
COMIDAS: Pipoca (deburu), abado, mostarda (latipá) aberém
SÍMBOLOS: Xaxará ou Íleo, lança de adeira, lagidibá
ELEMENTOS: Terra e fogo do interior da Terra
REGIÃO DA ÁFRICA: Empé ou Mahi (no ex-Daomé)
PEDRA: Turmalina negra
FOLHAS: Canela-de-velha, picão, erva-de-bicho, velame, manjericão roxo, barba-de-velho, mamona (ewé lará)
ODU QUE REGE: Odi, Etaogundá, Obeogundá
DOMÍNIOS: Doenças epidêmicas, cura de doenças, saúde, vida e morte

OSSAIM (Òsanyìn):

É o orixá das folhas e ervas medicinais e túrgicas. Por isso é muito importante em todas as cerimônias. Cado orixá possui suas próprias folhas, mas só Ossaim conhece os seus segredos, só ele sabe as palavras (ofó) que despertam seu poder.
Ossaim é o grande sacerdote das folhas, grande feiticeiro, que por meio das folhas pode realizar curas e milagres, pode trazer progresso e riqueza.
A floresta é a casa de Ossaim (que divide com outros orixás do mato como Ogum e Oxossi), seu território por excelência, onde as folhas crescem em estado puro, selvagem, sem a interferência do homem.
Ossaim teria um auxiliar que se resposabilizaria por causar o terror em pessoas que entram na floresta em a devida permissão. Aroni seria m misterioso anãozinho perneta que fuma cachimbo (figura muito próxima ao Saci-Pererê), possui um olho pequeno e o outro grande (vê com o menor) e tem uma orelha pequena e a outra grande (ouve com a menor). Aroni é muitas vezes confundido com o próprio Ossaim, que, segundo dizem, também possui apenas uma perna. Não se pode confundir Ossaim com o Saci, que é uma figura do folclore brasileiro. Ossaim é orixá de grande fundamento, que possui uma perna só porque a árvore (base de todas as folhas), possui um só tronco.
De acordo com a história desse orixá, há uma rivalidade entre Ossaim e Orunmilá, que reflete, na verdade, a antiga disputa entre os Oníìsègùn (mestres em medicina natural que dominavam o poder das folhas) e o Babalawó (sacerdotes versados nos profundos mistérios do cosmo e do destino dos seres, os pais do segredo).
Uma confusão latente e refere ao sexo de Ossaim (ele foi transformado em orixá feminino conhecido como Ossãe ou Ossanha em alguns condomblés); é preciso esclarecer que se trata de um orixá masculino. Entretanto, como feiticeiro e estudioso das plantas, não teve tempo para manter grandes relacionamentos amorosos. Sabe-se que foi parceiro de Iansã, mas o controvertido relacionamento com Oxossi (que ninguém pode afirmar se foi ou não amoroso), é o mais comentado. Esse caso, inspirou um dos maiores poetas a criar uma canção, Canto de Ossanha, que diz:

Amigo, senhor, saravá
Xangô me mandou lhe dizer
Se é canto de Ossanha
Não vá
Que muito vai se arrepender
Pergunte ao seu orixá
O amor só é bom se doer
Coitado do homem que cai
No canto de Ossanha traidor
Coitado do homem que vai
Atrás de mandigas de amor.
(“Canto de Ossanha”, Vinícius de Moraes)
Vinicius de Moraes escreveu um verdadeiro oriqui em homenagem a Ossaim. Vale lembrar que o poeta era adepto do Candomblé, filho do Gantois.

Aspectos Gerais
SAUDAÇÃO: Ewé ó!
DIA: Quinta-feira
DATA: 5 de outubro
METAL: Estanho
CORES: Verde e Branco
COMIDAS: Fumo, mel, milho vermelho, espigas regadas com mel
SÍMBOLOS: Haste ladeada por sete lanças com um pássaro no topo (árvore estilizada)
ELEMENTOS: Terra (floresta e plantas selvagens)
REGIÃO DA ÁFRICA: Iraó
PEDRA: Esmeralda
FOLHAS: Peregun, são-gonçalinho, garobinha (mas todas as folhas são de Ossaim)
ODU QUE REGE: Iká
DOMÍNIOS: Medicina e liturgia através das folhas

OXÓSSI (Òsóòsi):

É o orixá caçador, senhor das florestas e de todos os seres que a habitam. Atualmente, o culto a Oxossi está praticamente esquecido na África, mas é bastante difundido no Brasil, em Cuba e em outras partes da América onde a cultura yorubá prevaleceu.
Oxossi é o Rei e Senhor de Kêtu, segundo dizem a origem da disnatia. A Oxossi são conferidos os títulos de Alakétu (“Senhor de Kêtu”) e Oníìlé (Dono da Terra”).
No Brasil, muitas casas de Candomblé são consagradas a Oxossi: aPrimeira delas é o Ilê Iyá Nassô Oká, mais conhecida como Casa Branca, e a segunda é o Ilê Iyá Massê, que se tornou famosa com o nome de Gantois. Porém, todas as casa de Candomblé que pertencem à nação Kêtu têm Oxossi como protetor e patrono.
Na história da humanidade, Oxossi cumpre um papel civilizador importate, pois na condição de caçador representa as formas mais arcaicas de sobrevivência humana.
Outras histórias relacionadas a Oxossi o apontam como irmãos de Ogum. Juntos, eles dominaram a floresta e levaram o homem à evolução. Além de irmão, Oxossi é grande amigo de Ogum (dizem até que seria seu filho), e onde está Ogum, deve estar Oxossi, suas forças se completam, e unidas, são ainda mais imbatíveis.
A exemplo de Xangô, Oxossi é um orixá avesso à morte, porque é expressão da vida. A Oxossi não importa o quanto se viva, desde que se viva intensamente. O frio de Ikú (a morte) não passa perto de Oxossi, pois ele não acredita na morte.

Odé não chega perto de bicho morto.
Ele se assenta em terras estranhas.
Odé me olha e me dá medo.

Aspectos Gerais:
SAUDAÇÃO:Òké Aró! Arolé!
DIA: Quinta-feira
DATA: 23 de abril (SP), 20 de janeiro (RJ)
COR: Azul-turquesa
COMIDAS: Frutas, ewa (feijão-fradinho torrado), axoxó (milho cozido com coco)
SÍMBOLOS: Ofá (arco), damatá (flecha), erukeré
ELEMENTOS: Terra (florestas e campos cultiváveis)
REGIÃO DA ÁFRICA: Kêtu
PEDRAS: Turquesa, água-marinha
FOLHAS: Aroeira, peregun (pau-d’água), erva-pombinho (quebra-pedra), pega-pinto, alecrim-do-campo
ODU QUE REGE: Obará e Odi
DOMÍNIOS: Caça, agricultura, alimentação e fartura

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

OGUM (Ògún):

É o temível guerreiro, violento e implacável, deus do ferro, da metalurgia e da tecnologia; protetor dos ferreiros, agricultores, caçadores, carpinteiros, escultores, sapateiros, açougueiros, metalúrgicos, marceneiros, maquinistas, mecânicos e de todos os profissionais que de alguma forma lidam com ferro e metais afins.
Conquistador, Ogum fez-se respeitar em toda a África negra por seu caráter devastador. Um oriqui ajuda a compreender melhor o poder de Ogum, que é respeitado, sobretudo, pelo medo que desperta.

Ogum que, tendo água em casa,
Lava-se com sangue.
Os prazeres de ogum são os combates e as lutas.
Ogum come cachorro e bebe vinho de palma.
Ogum, o violento guerreiro,
O homem louco com músculos de aço,
O terrível deus que se morde a si próprio sem piedade.
Ogum que come vermes sem vomitar.
Ogum que corta qualquer um em pedaços mais ou menos grandes.
Ogum que usa um chapéu coberto de sangue.
Ogum, tu és o medo na floresta e o temor dos caçadores.
Ele mata o marido no fogo e a mulher no fogareiro.
Ele mata o ladrão e o proprietário da coisa roubada
Ele mata o proprietário da coisa roubada e aquele que critica esta ação.
Ele mata aquele que vende um saco de palha e aquele que o compra.

Outro oriqui mostra o quanto Ogum é temido, mas revela também que não há protetor mais dedicado, pois Ogum sabe amparar seus filhos e não deixa que eles padeçam. Alem do mais, a violência de Ogum, embora desenfreada, nunca é gratuita.


Silencio. Cala-se a fala.
Nada na casa em nada bata.
Inhame novo ninguém vai pilar.
Ninguém vai moer nada.
Não quero ouvir menino vagindo.
Cada mãe que amamente seu filho.

Quando Ogum despontou
Vestido de fogo e sangue
O pênis de muitos queimou
Vagina de muitas queimou.

Senhor do ferro
Que enraivecido se morde
Que fere ferroa e engole
Não me morda.
(...)

Não me torture, Ogum terror.
Mão comprida
Que livra teus filhos do abismo
Livra-me.

Ogum é um orixá importantíssimo na África e no Brasil. Sua origem, de acordo com a história, data de eras remotas. Ogum é o último imole.
Os Igba Imolé eram os duzentos deuses da qireita que foram destruídos por Olodumaré após terem agido mal. A Ogum, o único Igba Imolé que restou, coube conduzir os Irun Imolé, os outros quatrocentos deuses da esquerda.
A história de Ogum ainda revela que, antes de tornar-se esposa de Xangô, Oiá (Oya) era companheira de Ogum. Era ela que manuseava o fole para manter aceso o fogo da forja.

Aspectos gerais:
SAUDAÇÃO: Ògún ieé!
DIA: Terça-feira
DATA: 13 de junho
METAL: Ferro (mas todos os metais são de Ogum)
CORES: Verde ou azul-escuro (Brasil), vermelho (África)
COMIDAS: Inhame assado e feijoada
SIMBOLOS: Bigorna, faca, pá, enxada e outras ferramentas
ELEMENTOS: Terra (florestas e estradas) e fogo
REGIÃO DA ÁFRICA: Iré
PEDRA: Lápis-lazúli
FOLHAS: Abre-caminho-de-Ogum, madeira de lei, aroeira-branca, cajarana, folhas de manga, palmeira, pau-ferro, caiçara, peregun (pau-d’água)
ODU QUE REGE: Ejiokomeji, Etaogundá, Owarín
DOMÍNIOS: Guerra, progresso, conquista e metalurgia

EXU (Èsù):


É o primogênito do universo. Quando no mundo só havia água lamacenta, quando ainda não havia forma, surgiu um montículo de terra avermelhada, ao qual Olodumaré soprou a vida, dando origem a Iangui – Oba Babá Èsù (Exu Rei e Pai).
Exu é a figura mais controversa do panteão africano, o mais humano dos orixás, senhor do princípio e da transformação. Deus da terra e do fogo. Irritadiço, provoca brigas e disputas, por isso no Brasil é comumente associado ao diabo cristão. Mas quando tratado com consideração, pode prestar bons serviços, muitas vezes prejudicando pessoas más. É mensageiro entre os outros orixás e os homens. Exu contém todos os conflitos inerentes ao ser humano. Ele não totalmente bom nem totalmente mau, assim como o homem: um ser capaz de amar e odiar, unir e separar.
Os lugares preferidos de Exu são as encruzilhadas e os mercados. Na verdade, Exu gosta do movimento, de lugares com muita gente, onde confusões não demoram a aparecer. Onde tem um bafafá tem Exu. Como diz um de seus oriquis:

Agbó é forte, firme,maciço
Dá na aiabá com uma clava
Surra de chicote a mulher do rei
Deixa o chorão chorar
Vê gente brigando e não aparta.

Aspectos gerais:
SAUDAÇÃO: Laroié
DIA: Segunda-feira
DATA: Todos os dias são de Exu
METAL: Não tem, sua matéria é a terra em estado de pureza
CORES: Preto (fusão das cores primárias) e vermelho
COMIDAS: Farofa de azeite-de-dendê, ekó (acaçá), carne malpassada
SÍMBOLOS: Ogó de forma fálica
ELEMENTOS: Terra e fogo
Pedras:Rubi e granada
REGIÃO DA ÁFRICA: Exu é universal
FOLHAS: Folha de fogo, coração-de-negro, aroeira vermelha, figueira-brava, bredo, urtiga
ODU QUE REGE: Okaran e Owrín
DOMÍNIOS: Sexo, magia, união, poder e transformação

sábado, 16 de outubro de 2010

Recomendações sobre Lingua Yorubá

1. As letras A, B, F, I, L, M, T, U têm pronúncia igual ao português;

2. Vogais nasais são formadas colocando-se a letra N para fazer o som nasal. Ex:
AN e ON – leia-se como em “BOM”
IN – leia-se como em “SIM”
EM – leia-se como “BEM”
UM – Leia-se como em “ALGUM”

3. As palavras terminadas com NA e MO devem ser lidas com um som nasal. Em alguns casos colocamos a letra N entre parênteses no final da palavra para lembrar essa condição. Ex:
OMO ÒRÌSÀ – filho(a)-de-santo (leia como OMON  ORIXÁ)

4. Os acentos superiores fazem parte de um sistema tonal que indica como a palavra deve ser pronunciada:
Acento agudo – indica um tom alto
Acento grave – indica um tom baixo
Sem acento – indica o tom normal da voz da pessoa

5. Não há letras mudas. Todas devem ser pronunciadas com a acentuação na última sílaba.

6. O alfabeto yorubá não utiliza as letras C, Q, X, Z E V.

E foi inventado o candomblé...

No começo não havia separação entre
o Orum, o Céu dos orixás,
e o Aiê, a Terra dos humanos.
Homens e divindades iam e vinham,
coabitando e dividindo vidas e aventuras.
Conta-se que quando Orum fazia limite com Aiê,
um ser humano tocou o Orum com as mãos sujas.
O Céu imaculado do Orixá fora conspurcado.
O banco imaculado de Obatalá se perdera.
Oxalá foi reclamar a Olorum.
Olorum, Senhor do Céu, Deus Supremo,
irado com a sujeira, o desperdício e a displicência dos mortais, soprou enfurecido seu sopro divino
e separou para sempre o Céu da Terra.
Assim, o Orum separou-se do mundo dos homens
e nenhum homem poderia ir ao Orum e retornar de lá com vida.
E os orixás também não poderiam vir à Terra com seus corpos.
Agora havia o mundo dos homens e o dos orixás, separados.
Isolados dos humanos habitantes do Aiê,
as divindades entristeceram.
E os orixás tinham saudade de suas peripécias entre os humanos e andavam tristes e amuados.
Foram queixar-se com Olodumare, que acabou consentindo que os orixás pudessem vez por outra retornar à Terra.
Para isso, entretanto,
Teriam que tomar o corpo material de seus devotos.
Foi a condição imposta por Olodumare

Oxum, que antes gostava de vir à Terra brincar com as mulheres, dividindo com elas sua formosura e vaidade,
Ensinando-lhes feitiços de adorável sedução e irresistível encanto, recebeu de Olorum um novo encargo:
preparar os mortais para receberem em seus corpo os orixás.
Oxum fez oferenda a Exu para propiciar sua delicada missão.
De seu sucesso dependia a alegria de seus irmãos e amigos orixás.
Veio ao Aiê e juntou as mulheres à sua volta,
banhou seus corpos com ervas preciosas,
cortou seus cabelos, raspou suas cabeças,
pintou seus corpos.
Pintou suas cabeças com pintinhas brancas,
como as penas da galinha-d’angola.
Vestiu-as com belíssimos panos e fartos laços,
Enfeitou-as com jóias e coroas.
O ori, a cabeça, ela adornou ainda com a pena ecodidé, pluma vermelha, rara e misteriosa do papagaio-da-costa.
Nas mãos fez levar abebés, espadas, cetros,
e nos pulsos, dúzias de dourados indés.
O colo cobriu com voltas e voltas de coloridas contas e múltiplas lieiras de búzios, cerâmicas e corais.
Na cabeça pos um cone feito de manteiga e ori,
Finas ervas e obi mascado,
com todo dondimento de que gostam os orixás.
Esse oxo atrairia o rixa ao ori da iniciada e
o orixá não tinha como se enganar em seu retorno ao Aiê.
Finalmente as pequenas esposas estavam feitas,
estavam prontas, e estavam odara.
As iaôs eram as noivas mais bonitas
que a vaidade de Oxum conseguia imaginar.
Estavam prontas para os deuses.

Os orixás agora tinham seus cavalos,
podiam retornar com segurança ao Aiê,
podiam cavalgar o corpo das devotas.
Os humanos faziam oferendas aos orixás,
Convidando-os à Terra, aos corpos das iaôs.
E, enquanto os homens tocavam seus tambores, vibrando os batas e agogôs, soando os xequerês e adjás,
enquanto os homens cantavam e davam vivas e aplaudiam, convidando todos os humanos iniciados para a roda do xirê, os orixás dançavam, dançavam e dançavam.
Os orixás podiam de novo conviver com os mortais.
Os orixás estavam felizes.
Na roda das feitas, no corpo das iaôs,
eles dançavam e dançavam e dançavam.
Estava inventado o candomblé.
(E foi inventado o candomblé... Mito corrente em terreiros de nagô do Recife e terreiros queto do Rio de Janeiro e de São Paulo. Fragmentos em Arno Vogel et alii, 1993, pp88, 105, 113.)